Cedo ou tarde acontecerá isso nos Estádios Brasileiros |
Em mais um levantamento realizado pela
empresa Pluri Consultoria, que aborda a crise de público nos estádios
Brasileiros, foi passada à análise do comportamento do preço dos ingressos no
Brasil e seu patamar atual em relação ao mercado internacional . Na pesquisa,
foi abordada a trajetória dos preços dos ingressos nos últimos 10 anos, se
referindo ao preço médio dos ingressos mais baratos praticados pelos 20 clubes
que disputam a série A, para adultos, sem promoção ou meia entrada.
Com o estudo, foram chegadas as seguintes
conclusões
* O preço dos ingressos mais baratos subiu
300% nos últimos 10 anos, período em que a inflação (medida pelo IPCA-IBGE)
foi de 73%, a Cesta Básica subiu 84% e o Salário mínimo aumentou 183%;
* Quando se converte o preço dos ingressos
para US$, a alta foi ainda maior, de 506% no período, e em Euros atingiu 594%.
Isso ocorreu pela valorização do Real frente a essas moedas no período;
* Apesar de entendermos que o preço dos
ingressos não é o único responsável pelo esvaziamento dos estádios brasileiros,
certamente é um dos mais relevantes;
* Não cabe aqui a discussão sobre a futura
política de preços a ser praticada nos novos estádios brasileiros ou uma
suposta tentativa de elitização em andamento, mas apenas uma constatação de que
essa alta ocorreu em um ambiente de jogos de baixa qualidade, disputados em
estádios em situação precária. Ou seja, oferece-se um produto de qualidade
cada vez pior, a preços crescentes, em um cenário em que as opções de
entretenimento para o torcedor são cada vez maiores;
* Alguns argumentos tentam justificar essa
estranha situação. Um deles é a de que os preços baixos “desvalorizam o
produto”. Mas tem algo pior para o futebol do que um jogo ruim disputado em
estádio vazio?;
* Outro argumento utilizado com freqüência
é o de que são necessários ingressos mais caros em função do aumento do custo
do futebol no período. Ótimo, só esqueceram de perguntar ao torcedor se ele
concorda em pagar essa conta, e está claro que ele não concorda. Aliás,
lembrando sempre que esse torcedor é um cliente;
* Tem também o argumento de que o preço tem
que ser alto para estimular o torcedor a se tornar sócio do clube. Isso
funciona apenas para uma parcela de tor cedores, e costuma estar diretamente
atrelado ao momento do time. Ou seja, quando a fase é boa, o es tádio enche,
quando é ruim, volta a ficar vazio. Ingressos proibitivos não permitem que o
torcedor crie vínculos com o time e desenvolva, com o tempo o desejo de se
tornar sócio não apenas pela vantagem
* Ao praticar preços tão altos, o torcedor
toma uma decisão racional de consumo, escolhendo ir apenas aos jogos m ais
importantes. Isso explica a grande quantidade de partidas com público muito
baixo, e a presença de público maior em um ou dois jogos, geralmente as finais,
já que nem os clássicos conseguem mais mobilizar os torcedores;
* Encher o estádio deveria ser prioridade
total do clube, mesmo que para isso seja necessário praticar preços de
ingressos mais baixos inicialmente. Sabemos que há uma correlação direta entre
interesse de m ídia e de patrocinadores, com jogos em estádios cheios (e o
inverso também é verdadeiro, atenção!). Portanto, “casa cheia” potencializa
outras receitas dos clubes . E o aumento da demanda leva à escassez, que aí
sim, permite o aumento de preços;
* Apesar do crescimento econômico
verificado nesta última década, nunca é demais lembrar que o Brasil continua a
ser um país de salário mínimo de R$ 678, e renda per capita equivalente a cerca
de 1/3 da Européia;
*Existe um preço de equilíbrio que ajusta
oferta e demanda de um produto. No Brasil o preço dos ingressos não é decidido
tendo como base nenhum tipo de estudo ou análise mais profunda (‘pricing”), e
sim por uma simples arbitragem feita por dirigentes de federações e clubes. É
certo, porém, que estamos fora desse preço de equilíbrio, não fosse por isso
os estádios não eram tão vazios;
* O Futebol Brasileiro revogou a Lei da
oferta e da procura. Por aqui, quanto mais vazio os estádios ficam, mais o
preço dos ingressos sobe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário